A ordem do discurso pdf
Notaria apenas que, em nossos dias, as regioes onde a grade e mais cerrada, onde os buracos negros se multiplicam, sao as regioes da sexualidade e as da politica: como se 0 discurso, longe de ser esse elemento transparente ou neutro no qual a sexualida- 8 9 de se desarma e a polttica se pacifica, fosse urn dos lugares onde e1as exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais temiveis poderes.
Por mais que 0 discurso seja aparentemente bern pouca coisa, as interdicoes que 0 atingem reve1am logo, rapidamente, sua ligacao com 0 desejo e com 0 poder. Nisto nao ha nada de espantoso, visto que o discurso - como a psicanalise nos mostrou - nao e simplesmente aquilo que manifesta ou oculta 0 desejo; e, tambern, aquilo que e 0 objeto do desejo; e visto que - isto a historia nao cessa de nos ensinar - 0 discurso nao e simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominacao, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar.
Existe em nossa sociedade outro principio de exclusao: nao rna is a interdicao, mas uma separacao e urna rejeicao. Penso na oposicao razao e loucura. Desde a alta Idade Media, 0 louco e aque1e cujo discurso nao pode circular como 0 dos outros: pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula e nao seja acolhida, nao tendo verdade nem importancia, nao podendo testemunhar na justica, nao podendo autenticar urn ato ou urn contrato, nao podendo nem mesmo, no sacriftcio da rnissa, permitir a transubstanciacao e fazer do pao urn corpo; pode ocorrer tambern, em contra partida, que se lhe atribua, por oposicao a todas as outras, estranhos poderes, 0 de dizer uma verdade escondida, 0 de pronunciar 0 futuro, 0 de enxergar com toda ingenuidade aquilo que a sabedoria dos outros nao pode perceber.
E curiosa constatar que durante seculos na Europa a palavra do louco nao era ouvida, ou entao, se era ouvida, era escutada como uma palavra de verdade. Ou cata no nada - rejeitada tao logo proferida; ou entao ne1a se decifrava uma razao ingenua ou astuciosa, urna razao mais razoavel do que a das pessoas razoaveis.
De qualquer modo, exclutda ou secretamente investida pela razao, no sentido restrito, ela nao existia. Era atraves de suas palavras que se reconhecia a loucura do louco; elas erarn 0 lugar onde se exercia a separacao; mas nao eram nunca recolhidas nem escutadas.
Todo este imenso discurso do louco retomava ao nndo; a palavra so the era dada simbolicamente, no teatro onde ele se apresentava, desarmado e reconciliado, visto que representava ai 0 papel de verdade mascarada. Dir-se-a que, hoje, tudo isso acabou ou esta em vias de desaparecer; que a palavra do louco nao esta mais do outro lado da separacao; que ela nao e mais nula e nao-aceita; que, ao contrario, ela nos leva a espreita; que nos at buscamos urn sentido, ou 0 esboco ou as rumas de uma obra; e que chegamos a surpreende-la, essa palavra do louco, naquilo que nos mesmos articulamos, no disturbio minusculo por onde aqui- 10 que dizemos nos escapa.
Mas tanta atencao nao prova que a velha separacao nao voga mais; basta pensar em todo 0 aparato de saber mediante 0 qual deciframos essa palavra; basta pensar em toda a rede de instituicoes que permite a alguern - medico, psicanalista - escutar essa palavra e que permite ao mesmo tempo ao paciente vir trazer, ou desesperadamente reter, suas pobres palavras; basta pensar em tudo isto para supor que a separacao, longe de estar apagada, se exerce de outro modo, segundo linhas distintas, por meio de novas instituicoes e com efeitos que nao sao de modo algum os mesmos.
E mesmo que 0 papel do medico nao fosse senao pres tar ouvido a uma palavra enfim livre, e sempre na manutencao da cesura que a escuta se exerce. Escuta de urn discurso que e investido pelo desejo, e que se ere - para sua maior exaltacao ou maior angustia - carregado de ternveis poderes.
Se e necessario 0 silencio da razao para curar os monstros, basta que 0 silencio esteja alerta, e eis que a separacao permanece. Talvez seja arriscado considerar a oposicao do verdadeiro e do falso como urn terceiro sistema de exclusao, ao lado daqueles de que acabo de falar. Como se poderia razoavelmente comparar a forca da verdade com separacoes como aquelas, separacoes que, de saida, sao arbitrarias, ou que, ao menos, se organizam em tomo de contingencias his- 12 13 'I t6ricas; que nao sao apenas modificaveis, mas estao em perpetuo deslocamento; que sao sustentadas por todo urn sistema de instituicoes que as imp oem e reconduzem; enfim, que nao se exercem sem pressao, nem sem ao menos uma parte de violencia.
Certamente, se nos situamos no mvel de uma proposicao, no interior de urn discurso, a separacao entre 0 verdadeiro e 0 falso nao e nem arbitraria, nem modificavel, nem institucional, nem violenta. Mas se nos situamos em outra escala, se levantamos a questao de saber qual foi, qual e constantemente, atraves de nossos discur- 50S, essa vontade de verda de que atravessou tantos seculos de nossa historia.
Separacao historicamente constitutda, com certeza. Mas nao cessou, contudo, de se deslocar: as grandes mutacoes cienttficas podem talvez ser lidas, as vezes, como consequencias de uma descoberta, mas podem tambern ser lidas como a aparicao de novas formas na vontade de verdade.
Ha, sem duvida, uma vontade de verdade no seculo XIX que nao coincide nem pelas formas que poe em jogo, nem pelos dommios de objeto aos quais se dirige, nem pelas tecnicas sobre as quais se apoia, com a vontade de saber que caracteriza a cultura classica. Voltemos urn pouco arras: por volta do seculo XVI e do seculo XVII na Inglaterra sobretudo , apareceu uma vontade de saber que, antecipando-se a seus conteudos atuais, desenhava planos de objetos posstveis, observaveis, mensuraveis, classificaveis; uma vontade de saber que impunha ao sujeito cognoscente e de certa forma antes de qualquer experiencia certa posicao, certo olhar e certa funcao ver, em vez de ler, verificar, em vez de comentar ; uma vontade de saber que prescrevia e de urn modo mais geral do que qualquer instrumento determinado 0 mvel tecnico do qual deveriam investir-se os conhecimentos para serem verificaveis e uteis.
Tudo se passa como se, a partir da grande divisao platonica, a vontade de verdade tivesse sua propria historia, que nao e a das verda des que constrangem: historia dos planos de objetos a conhecer, historia das funcoes e posicoes do sujeito cognoscente, historia dos investirnentos materiais, tecnicos, instrumentais do conhecimento. Ora, essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusao, apoia-se sobre urn suporte institucional: e ao mesmo tempo reforc;;ada e reconduzida por todo urn compacto conjunto de praticas como a pedagogia, e claro, como 0 sistema dos livros, da edicao, das bibliotecas, como as sociedades de sabios outrora, os laboratories hoje.
Mas ela e tambem reconduzida, mais profundamente sem duvida, pelo modo como o saber e aplicado em uma sociedade, como e valorizado, distribuido, repartido e de certo modo atributdo. Recordemos aqui, apenas a titulo simbolico, 0 velho principio grego: 16 17 que a aritmetica pode bern ser 0 assunto das cidades dernocraticas, pois ela ensina as relacoes de igualdade, mas somente a geometria deve ser ensinada nas oligarquias, pois demonstra as proporcoes na desigualdade.
Enfim, creio que essa vontade de verdadeassim apoiada sobre urn suporte e uma distribuicao institucional tende a exercer sobre os outros discursos - estou sempre falando de nossa sociedade - uma especie de pressao e como que urn poder de coercao.
Penso na maneira como a literatura ocidental teve de buscar apoio, durante seculos, no natural, no verosstmil, na sinceridade, na ciencia tambern - em suma, no discurso verdadeiro. No livro, Foucault procura mostrar que os discursos que transforma a sociedade so controlados, perpassados por formas de poder e de represso.
Foucault esclarece que existem diversos procedimentos de represso do discurso. Inicialmente o autor apresenta que todo discurso controlado pela interdio a qual vista como um recurso que limita a enunciao do discurso, ou seja, existem tabus para o discurso, tendo em vista que no tudo que pode ser dito por qualquer pessoa, em qualquer lugar ou circunstncia.
Segundo Foucault, a poltica e a sexualidade seriam os dois principais tabus presentes na sociedade e revela ainda, que os discursos so marcados pela busca de desejo e de poder, pela luta do controle daquilo que enunciam. Outro elemento que Foucault aborda a excluso e a rejeio e para explicar traz tona a oposio entre razo e loucura.
A excluso bem explicada a partir do discurso do louco cujo discurso a sociedade no compreende, e considerado nulo porque no atende s exigncias sociais. Assim, temos a segregao da loucura, j que a sociedade no admite esse discurso como verdadeiro ou no tem interesse em ouvi-lo, pois no era visto como uma palavra de verdade e, portanto, no tem validade.
O autor continua sua abordagem e apresenta outros meios de controle do discurso. Foucault comea falando do comentrio e defende que o comentrio conjura o acaso do discurso fazendo-lhe sua parte.
Outro elemento que limita o discurso o autor, esse visto como origem das significaes presentes no discurso. Para Foucault, o autor um elemento que completa o comentrio.
Dentro desse grupo se inclui a disciplina cujo controle do discurso diferente do comentrio e do autor, ou seja, a disciplina exerce seu controle na produo dos discursos por meio da imposio de limites e de regras. Para finalizar, Foucault se assume como um seguidor das propostas hegeliana. Por fim, essa obra se mostra como de grande importncia para os estudos filosficos e sociolgicos. Analisar as relaes de poder-saber na sociedade, nos permite comear a identificar as caractersticas e prticas que tm efeitos perigosos ou negativos.
O livro Ordem do discurso e muito proveitoso para as pessoas que querem entende o discurso e o poder que ele transmite em uma sociedade. Voc comea a analisar e a questionar: Onde est o poder? O poder est em cada um de ns? O discurso um elemento do poder? Esse tipo de questionamento, principalmente no ambiente universitrio muito bom para agua e mostrar outras formas de controle e persuaso, principalmente para ns que muito provavelmente seremos educadores que nos abri possibilidades de mudanas na nossa pratica educativa.
Mas um ponto negativo no livro de Michel Foucault foi a sua leitura rebuscada e de difcil entendimento, cuja para melhor compreenso a sua leitura se toda ideal na sala de aula com o professor.
Conclui-se ento que o livro de Foucault excelente para leituras e analises da prpria pessoa e sociedade por mais que o livro no seja to didtico e de fcil compreenso. Pular no carrossel. Anterior no carrossel. Download Download PDF. Translate PDF. Onde, vo. Ora, eis nem institucional, nem violenta. Voltemos um pouco um s.. Em suma, meiro lugar. Canguilhem, "no verdadeiro". Ela lhe fixa os acesso a eles. A doutrina realiza sujeito que fala. De modo a que sua rique- za fosse aliviada de sua parte mais perigosa a soberania do significante.
Dever-se-ia admitir a plenitude vir-.
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